Conheça a empresa que fabrica trens elétricos há 49 anos


São Paulo – Na era digital, com smartphones, tablets e videogames tomando conta do tempo de lazer das pessoas, é difícil imaginar que ainda exista espaço para negócios como o da Frateschi: fabricante de trens em miniatura que está há 49 anos no mercado. Mas não é bem assim.

“As pessoas são bombardeadas pela tecnologia, ficam viciadas. É claro que somos atingidos pelas mudanças no comportamento do consumidor, mas investimos nessa linha de que temos um produto que tira você um pouco desse universo digital”, afirma Lucas Frateschi, de 38 anos, diretor do negócio que já está há três gerações na família.

Segundo o empreendedor, o público da empresa é basicamente masculino e reúne colecionadores e aficionados, que têm como hobby aumentar sua coleção e montar uma ferrovia cada vez mais equipada. “Assim como tem quem gosta de colecionar carrinho, tem os que gostam de trens. É uma brincadeira que não tem fim, a pessoa vai expandindo sua coleção e sua ferrovia aos poucos. É um hobby que está presente no mundo há mais de 120 anos”, conta.

Boa parte dos consumidores também é formada por pais em busca de uma forma mais lúdica de interagir com os filhos. “O trem é um brinquedo clássico, te chama para um mundo mais lúdico, um mundo da imaginação. E com isso há muitos pais querendo trazer essa opção de lazer para casa”, afirma. Segundo ele, o Brasil tem hoje cerca de 10 mil aficionados por trens.

Desde 1967

A empresa atua no ramo dos trens elétricos desde 1967, quando o avô de Frateschi viu neste setor uma oportunidade (até então a fábrica fazia brinquedos de madeira). Manter o negócio por tanto tempo é um feito louvável, considerando que mais da metade das empresas no Brasil não sobrevive mais do que quatro anos.

“É um desafio manter esse negócio, especialmente no cenário em que vivemos. Atribuo nosso sucesso à persistência, à vontade de nos mantermos no mercado e ao fato de termos uma ligação emocional com o trem. A gente gosta do que faz”, afirma o empreendedor, que atualmente trabalha com seu pai. A empresa tem 25 funcionários.

Única fabricante do tipo na América Latina, a Frateschi tem produtos em 120 pontos de venda no Brasil além de 12 pontos no exterior, em países como Austrália, África do Sul e Argentina. Todos os produtos da empresa são inspirados em locomotivas brasileiras de diferentes épocas. “Queremos difundir mais a história ferroviária brasileira. Nosso catálogo tem mais de 200 produtos, que representam 90% das ferrovias brasileiras de várias épocas. Tenho réplicas dos anos 1940, 1970, e também atuais”, conta Frateschi.

O empreendedor explica que as exportações se dão de acordo com a malha ferroviária de cada país, e a empresa então faz uma adaptação de seus itens para torná-los parecidos com as locomotivas de lá. “Na Inglaterra, por exemplo, não vamos entrar, porque são ferrovias muito diferentes. A pessoa compra o que ela vê”, afirma.

Bluetooth e aplicativo

Um dos desafios do negócio é o fato de o Brasil não ter uma tradição de transporte ferroviário de passageiros, o que faz com que menos gente desenvolva uma ligação emocional com os trens. “A recordação que o paulistano, por exemplo, tem do trem e do metrô é de um lugar lotado. Não é uma memória positiva. Isso dificulta”, lamenta Frateschi, que hoje vive em Ribeirão Preto, mas já morou em São Paulo.

Formado em administração de empresas pela PUC-SP, Frateschi trabalhou por quatro anos no mercado financeiro antes de voltar para Ribeirão e entrar no negócio da família. “Aqui, comecei de baixo e fui conquistando meu espaço”, conta.

Para o futuro da empresa, Frateschi diz que gostaria de manter o negócio na família, “para manter o viés do fundador, que é importante para o negócio”. Outro plano é investir em formas de conquistar o público mais jovem, acostumado desde cedo às novas tecnologias.

“Estudamos a possibilidade de poder ligar o trem através do Bluetooth ou ainda desenvolver um aplicativo que permita interagir com o trem também pelo celular. Não podemos ficar alheios à tecnologia, mas o ponto central continuará o mesmo: os trens”, afirma.

Para Frateschi, o negócio dos trens em miniatura está longe de morrer. “A tecnologia comeu o disco de vinil, mas não existe ainda uma tecnologia que substitua o hobby do modelismo. As pessoas que gostam disso vão continuar existindo.”